Teatro Variedades

Notas ao programa por Artway
A Suite em Sol Maior BWV 1007 que abre o conjunto das seis Suites para violoncelo solo de Johann Sebastian Bach é a mais famosa. A melodia dos primeiros compassos do prelúdio inicial é sobejamente conhecida, e uma das mais icónicas de toda a obra de Bach. Já passou por bandas sonoras de filme, anúncios de publicidade, rádio, grandes e pequenas salas de concerto pela mão de inúmeros violoncelistas. Mas esta suíte é também composta por uma riquíssima gama temática ao longo de um conjunto de formas de dança a partir das quais Bach explora diferentes recursos técnicos que põem à prova a destreza de execução do violoncelista, e ao mesmo tempo a sua sensibilidade interpretativa para a riqueza de temas que vai sendo explorada. É recorrente um contraste entre passagens de carácter mais delicado e contemplativo, como a sarabande, e outras onde há um desafio virtuosístico evidente, como na giga.
Uma das mais complexas do ponto de vista da técnica do violoncelo, a Suite nº 4 para violoncelo solo de J. S. Bach é consideravelmente mais exigente para o executante, quando comparada com as três anteriores. Apesar de não estar escrita numa tonalidade confortável para o violoncelista, o resultado musical é tão ou mais deslumbrante que as restantes suites. A quinta suite para violoncelo solo BWV 1011 de J. S. Bach foi originalmente concebida em scordatura, com a corda lá (a mais aguda) afinada em sol, tendo sido mais recentemente adoptadas versões com a afinação habitual do violoncelo.
Esta suite tem a particularidade de ser a única que integra uma forma que Bach utilizou como ninguém – a fuga – presente logo no prelúdio inicial, o qual tem como base a estrutura da abertura francesa barroca. A influência do gosto francês da época estende-se nesta suite também à courante e à giga, contrariamente ao estilo italiano que vinga nas restantes. Se, ao longo do conjunto das seis suites, as sarabande são as danças em que o compositor nos deixa em suspenso pelo carácter intimista e eminentemente contemplativo que lhes confere, em andamentos lentos e a partir de um delicado recorte melódico, esta é talvez o ex-libris desses exemplos. A sarabande da quinta suíte tem sido uma das passagens mais apreciadas e difundidas deste conjunto de seis suítes, por inúmeros exímios violoncelistas.

Filipe Quaresma, violoncelo

JOHANN SEBASTIAN BACH (1685-1750)
Suite para violoncelo solo em Sol Maior, senza Basso no. 1, BWV 1007
Prelude, Allemande, Courante, Sarabande, Minuets 1 e 2, Gigue

Suite para violoncelo solo em Dó Maior, senza Basso no. 4, BWV 1010
Prelude, Allemande, Courante, Sarabande, Bourrées 1 e 2, Gigue

Suite para violoncelo solo em Dó Maior, senza Basso no. 5, BWV 1011
Prelude, Allemande, Courante, Sarabande, Gavottes 1 e 2, Gigue